quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Caminho incerto

Que sentimento é esse que me fisga a qualquer hora
Mesmo tendo que ir embora, com a festa animada
Conclama minha presença
Mas me abandona diante da multidão

Que sentimento é esse que ocupa a minha mente
Que me deixa indeciso, se parto ou se fico
Deixando para trás a conquista
Em troca de um sonho ou ilusão

Que sentimento é esse que não se embriaga
Que esquece a conversa afinada
Ignora os velhos amigos
Para encontrar a temida solidão

Não pode ser o amor, que rompe barreiras
Dispensa a razão, constrói o coração
Interpreta a vida a seu modo, a seu jeito,
Ainda que se queira controlar sua direção

Julio Cesar Oliveira

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Outro Lado

Minha tristeza me engana
Tua imagem me assombra
A lembrança insinua
O tempo que apronta

O silêncio que aconselha
Sua vinda que não chega
A paisagem está tomada
As coisas assentadas

Famílias desamparadas
Leitos desocupados
Promessas feitas ao vento
O Bento que não abençoa

“Acho que gosto de São Paulo”
Acho que moro no Rio
Acho que não sei decidir
Acho que fico por aqui

Julio Cesar Oliveira

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Planeta embriagado

Pensei que era solidão, mas era só embriaguez
Fujo desse mundo cão, dessa grande insensatez
O corpo que está no chão já não me pertence mais
Meu nome pouco importa, sou um número esperando a vez.

Meu pai sempre dizia: “meu filho, tem que ler”
Leio todo dia, a desgraça, a rebeldia, a tristeza
Alienação do que é de todos eu já cansei de ver
Talvez só indo embora, em busca da nobreza

Mas eu sei, meu caro, que isso não vai adiantar
O que adianta nesse mundo é roubar, roubar, roubar.
Roubar a honestidade, roubar a probidade, roubar a sua mente
Ainda que cristão, ainda que João, ainda que inocente

Não se engane sobre essa vida
Aqueles que sofrem não estão perdidos
Dizem que do outro lado ainda há uma chance
Mesmo que aqui eu não tenha amor e nenhum simples lanche.

Julio Cesar Oliveira

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Inocência

Lá vai o moleque
Sem rosto e retrato
Apenas descalço, incauto
À sombra da ingratidão

Lá vai o moleque
Jogado, roubado, largado
Ainda que inocente, renegado
Em busca de sua nação

Lá vai o moleque
Faminto, pedindo, cuspido
Esperando o que lhe foi prometido
Às custas de algum co-irmão

Já não vai o moleque
Ignorado pelo mundo
Sem saber o que é a razão
Agora tem um teto,

Um teto chamado caixão.

Julio Cesar Oliveira

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Fé?

Meu futuro me condena
Ainda que eu não o conheça
Sou escravo desse mundo
Mesmo que eu não obedeça

É carro que mora em prédio
É gente que mora em carro
Espero não encontrá-lo
Porque aqui ele não vive

Não olha onde não crê
Se há fome, para que comer?
Há briga em seu nome
Ainda sim, finge não ver

Cansado de esperar
Acho que vou deitar
O jornal já vai acabar
É hora de ir trabalhar

Julio Cesar Oliveira

A Pedra e a Rosa

A pedra amanheceu triste
Arrancaram-lhe a única rosa
Agora, ninguém há para repousar
Mais ninguém a quem cheirar
O pólen que tanto lhe usou
Hoje não passa de lembrança
Pobre pedra, sozinha no monte
Nem a chuva lhe abonança
Às vezes quando se quer algo
O oposto não te entende
Difícil ultrapassar os obstáculos juntos
Até que um siga em frente
Coitada da pedra, noite e dia
Só lhe sobra o horizonte
Lhe abandona à noitinha
Volta por trás dos montes
Ainda que brigando e infelizes
Estamos nessa vida para sorrir
Não desejar o mal do vento
Pois não sabemos donde viemos...
Talvez nem sabemos para onde vamos
Mas é certo que estamos aqui
Olhando além fronte
A pedra em cima do monte
A rosa, nem Deus sabe onde.

Julio Cesar Oliveira

Novos tempos

As amarras do futuro me remontam ao passado
Quando livre das grades e ao léu caminhando
Era promessa de vida bela e longevidade
Quando contemplar a lua era possível
Sem que o receio do breu fosse obstáculo
Ah! Saudades desse encontro enamorado
De tudo, porém, não ouso reclamar
O bom dia do sol e o despertar dos pássaros
Fazem do horizonte um mar sem fim
A brisa do vento, correndo no peito
Transforma em memória o velho boêmio
Que venham os modernos com suas argolas
Tentando a prisão em gaiolas verticais
Se a mente livre e a beleza eterna sobrevive
O plano neste mundo não será eficaz

Julio Cesar Oliveira

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Amanhã, não!

Às vezes a busca pelo conhecimento irreal te leva à infelicidade
Ao isolamento, à dúvida sobre o seu existir
Ou sobre quem está ao seu lado
Talvez não exista lado para quem só enxerga a frente
Horizonte multifacetado
Não se espera quem não planeja
Não se espera quem não almeja
Feliz o ignorante, que nada conhece, nada sabe, nada busca
Apenas ama no presente e esquece no futuro
És um sábio, pois a vida apenas é o estar e não o porvir
Vive-se o presente, como se fosse o último dos dias
Ignora-se o futuro, deixando para aquele que tudo vê
Não espera a morte porque não a conhece
Mas cultua a vida, porque lhe enobrece
Não quer ser esperado, não quer almejar
Não quer saber do amanhã para amar

Julio Cesar Oliveira

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

União instável

Por que querer o bem de quem não conheço
De quem me elogia, mas não sabe quem sou
Me confesso para quem não vejo
Compartilho a dor de um sentimento que não me flechou
As palavras transformam tristeza em sabedoria
Não importa quem se é, não importa quem se foi
Desconheço sua origem, ignoro suas crenças
Meu sorriso morre por último
A tristeza fica no meio
Ainda que choremos ao nascer
Ainda que exista a desilusão
Sei que um dia eu hei de crescer
Sei que uma hora você vai me dar a mão

Julio Cesar Oliveira

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Marinheiro sem destino

Navego nesse mundo infinito
Meio ao acaso, meio sem sentido
A estrela briga comigo
Ama-se quem não se conhece
Apaixona-se por abstração
Talvez eu saia dessa prisão
Talvez não queira do seu olhar abrir mão
Por que lá fora, se o mundo é aqui dentro
A imagem me protege, desse fraco coração
A fome e a sede revelam o eqüino bifronte
O caminho da indiferença é a única opção
Não existe lado, não existe trás
Mas é só você quem me satisfaz
Um dia volto para todos contar
As coisas desse mundo que eu não quis amar

Julio Cesar Oliveira

Mundo indiferente


Não vemos, não ouvimos, não sentimos.
No meio da noite gritamos no vácuo da solidão.
Quem somos, que caminhamos e ao lado não percebemos?
Amanhecemos e anoitecemos, retilínea é a vida para nossa visão.

No mundo dos iguais, somos desiguais.
A paisagem negativa de um espaço tomado.
Sem eira, nem beira, os que aparecem é que são os tais.
Condecorados, abençoados e sempre os mais votados.

Nada fizemos, nada conseguimos, no peito a espada.
Somente o papelão para aquecer esse coração.
Sem teto, sem terra, sem nada.
Ao abrigo do latido do companheiro cão.

Esmola, sede, fome, doença.
Quem somos, ó pátria amada.
Os indiferentes nessa grande indiferença.
A espera, sempre a espera, da pessoa amada.

Julio Cesar Oliveira

O Pão

Onde estás que me preenche o vazio noturno.
Onde estás que a divindade soube reparti-lo.
Surgido do pó, alvo do labor do campo.
Entregues àqueles que não reconhecem o teu valor.

Serias meu, fosse eu submetido aos anseios sociais.
No entanto, abandonado, maltratado, jamais o encontrarei.
Emprego, eterno desconhecido, me ajudaria tê-lo.
Mas o descalabro da vida o afasta de mim.

O caos da pressa, da velocidade, em detrimento da amizade.
É mais um tempero ácido para que eu fique onde estou.
A indiferença que ignora o avoar da mão que se estende.
É o caminho para a estrada contrária ao esplendor.

Não se zangue, se não o encontrar nesta vida.
Enganam-se aqueles que choram a partida.
A história começa quando houver a saída.
Para mais essa triste cumbuca de dor.

Julio Cesar Oliveira